segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Um domingo especial.

8hoo da manhã e lá estávamos todos na doca de Sesimbra sem atrasos. Azáfama total! Todos impacientes pelos mergulhos naquela zona da costa tão distante de tudo e, especialmente, por ser tão virgem... ao mergulho apenas e infelizmente. Mas adiante, rapidamente atulhámos o semi-rígido e fizemos rumo a Pinheiro da Cruz. Estava um dia fantástico e o mar ainda melhor, era azeite. Tudo na galhofa e já afastados 2 ou 3 milhas do porto eis que avisto uma "Caravela Portuguesa", uma daquelas medusas tão famosas nos dias que correm devido à comunicação social, apesar de ser uma espécie relativamente comum na ilha das Flores onde em determinados anos é uma verdadeira praga (vem arrastada pela corrente do golfo) que chega a tornar impossíveis mergulhos em certas zonas devido à alta densidade de exemplares.

Voltando à nossa viagem em que, após paragem para observação daquele bonito e grande exemplar de medusa, continuámos mar fora e rapidamente se abate sobre nós um frio e espesso nevoeiro que nos acompanhou até à chegada ao local e me dificultou bastante a localização dos
spots. Mas, assim que o nevoeiro deu os primeiros sinais de querer levantar comecei a vislumbrar costa, tendo sido o suficiente para, com a ajuda da sonda, localizar o spot onde faríamos o primeiro de uma série de três mergulhos.



Primeiro mergulho: profundidade 28 metros, visibilidade no fundo 8 metros (muito bom nesta altura do ano para este local), temperatura 16 graus no fundo, 19º à superfície, tempo máximo de fundo 54 minutos (paragem de segurança incluído). Neste primeiro mergulho formámos três grupos distintos. À medida que cada grupo estava pronto iniciava a descida e ia «à sua vida». Assim foi até chegar a vez do meu grupo descer. Fomos os últimos, atingimos o fundo e fiquei feliz pela visibilidade ser "boa" pois durante a descida chegamos a atravessar zonas de pouco mais de metro e meio de visibilidade. No fundo começámos por observar uma quantidade grande de cabos e redes espalhados num misto de areia e pedra baixa, pedra esta que não passa de um tipo de argila compactada em tudo semelhante aos arenitos que compõem a falésia. Percorremos o limite sul dessa pedra em forma de laje que se destacava do fundo arenoso pouco mais de vinte centímetros, o suficiente para albergar um safio em cada buraco que tinha. Inacreditável! Numa área de cerca de 2o metros quadrados contei 4 safios. De salientar ainda as belas e enormes anémonas tubo com os seus tentáculos ao sabor da leve corrente que se fazia sentir após isso e a tentativa infrutífera de tentar afastar um pouco a rede que estava prestes a arrancar um destes lindos seres. Seguimos no sentido norte da pedra e depressa deparámos com uma formação rochosa de maiores dimensões, não em área, mas sim em altura, apesar de não ultrapassar um metro.

Quando nos aproximámos avistámos um enorme pargo legítimo a pairar sobre ela como que a dizer, venham, venham ver. Assim que chegámos fomos logo "recebidos" por mais um safio, mas este de enormes dimensões. Ainda não tínhamos ficado muito tempo a gozar aquela visão quando nos apercebermos de que a pedra era tipo queijo suíço, toda ela furada, com buracos que a atravessavam de um lado para o outro e em todos os sentidos. Estávamos no Éden! A quantidade e o tamanho dos peixes eram de tal ordem que nos deixaram completamente estupefactos. De facto, não sobrava espaço em cada um daqueles "corredores" onde os sargos e safias se acotovelavam a tentar fugir de nós mas sem sair da pedra. Segundo o Alex, quando eles chegaram ainda havia também robalos à mistura. Foi a loucura! E foi também por tudo isto que percorremos uma longa viagem, no entanto os nossos computadores não nos deixaram prolongar o fantástico filme que tínhamos à frente das nossas màscaras. Era tempo de subir, de voltar à realidade.


Quando terminamos o primeiro mergulho o ultra entusiasmo de contar tudo o que se viu era geral, ao que se seguiu a fome e o chop-chop. Sou então informado de que ali por baixo (e segundo a sonda) havia uma nova zona de rocha. Lá fomos para um segundo mergulho, ou uma tentaiva, mas falso alarme. Nada para além de areia, muita areia, num fundo de 24 metros de profundidade. Voltámos a subir e fomos ao terceiro mergulho, este a menor profundidade ainda, 18 metros. Ao descer vimos rapidamente que era uma zona muito fustigada pelos pescadores submarinos. Aliás, bem próximo do nosso barco havia dois semi-rígidos com essa finalidade. Resultado, o peixe mal nos avistava parecia que via o diabo. Simplesmente, volatilizavam-se.

Este ultimo spot, para além desse facto, tinha uma zona grande do fundo coberta por um género de alga que os Setubalenses chamam "tabaco". São um género de tufos esféricos semelhantes, em dimensão, a uma bola de ténis ou pouco menores. Foi o que acabou por dar uma animação ao mergulho, pois aproveitámos para brincar com aquilo, tipo mergulha no meio, e houve até quem fizesse uma «festa da espuma» espalhando daquilo por tudo quanto era espaço. Foi giro e bem diferente.

Resumindo: esta zona, apesar de super explorada, quer por pescadores profissionais quer por pescadores submarinos, continua a ser um verdadeiro paraíso para os peixes, o que é muito fácil de compreender, pois numa extensão de vários
quilómetros não existe o mais pequeno refúgio rochoso, o que faz com que todas as espécies por ali fiquem em busca de abrigo.

Continua a valer a pena esta longa deslocação e, principalmente, quando feita com um grupo de amigos como foi o caso. Por tudo isso, para o inverno há mais e lá voltaremos. =)

Obrigado a todos os que nos acompanharam e também a todos aqueles que têm pachorra para ler estas crónicas.

Tz

Ps. Fotos de João Martins.


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